sexta-feira, 26 de abril de 2013

A Miserável

Mês passado fui assistir ao espetáculo "Os Miseráveis" na XII Mostra de Teatro da UFRJ. Fui sozinho mesmo. Antes que me chame de antissocial, saiba que convidei pessoas para ir comigo. Pessoas do sexo feminino, diga-se de passagem. Devido a outros compromissos tais quais enfermidades, pintura de unhas, casamento de primas, visitas inesperadas de tias, ou simplesmente má vontade e desinteresse pela minha modesta companhia, nenhuma delas topou.
Mesmo assim não desisti. Até porque de fato queriar ver a peça e rejeições à parte, "A vida é hoje e é com ou sem você". Papo de forever alone. Tinha, inclusive, me preparado antes vendo duas versôes cinematograficas: a de 1998 e a de 2012. Era para impressionar a acompanhante fosse quem fosse, mas enfim, um pouco de cultura a mais é sobre bom.
Pronto para mais uma aventura em carreira solo na vida, desisti na primeira tentativa, porque choveu muito. Fui em outro dia e consegui assistir. A peça foi ótima, mas na verdade nem vou falar sobre ela hoje e sim sobre uma história paralela que aconteceu comigo em mais uma aventura quixotesca. Dessa vez, vosso valente e pacífico gordinho aventureiro teve que se deparar com o temperamento explosivo de uma garota.


Sortudo como sou, quando cheguei as senhas haviam acabado. Assim, fiquei na fila de espera, na esperança de que houvesse algum desistente. Na fila, não pude deixar de reparar na bela morena de vestido preto, que estava na minha frente, para minha surpresa, desacompanhada. Dei meus sorrisinhos sem graça para ela, mas nem fui correspondido. Engraçado é que do nada ela começou a conversar, toda alegre e sorridente, com um casal de carinhas que estava na frente dela. E olha que ela nem conhecia os caras. Eu ali sozinho e ela flertando com dois homossexuais comprometidos. Vá entender.
Mas nem tudo estava perdido, meus caros. Começou a chover. Minha vida parece que é dirigida pelo Akira Kurosawa: cedo ou tarde, a chuva entra em cena. Mas a chuva dessa vez me trouxe frutos. Duas garotas que estavam atrás de mim, sem guarda chuva, me perguntaram se eu poderia dividir o meu com elas. Lógico que aceitei. Não tinha como recusar.


Ficamos os três debaixo do meu guarda-chuva. Eu como sou banana não falei nada em momento algum. Fiquei lá parado, com o olhar fixo para a frente, que nem o Totoro no ponto de ônibus. Ao menos, pude prestar atenção na conversa delas. Um monte de bobagens. A conversa só serviu mesmo para eu gravar o nome de uma delas. A fila andou (no sentido literal), nos separamos e entrei para ver a peça sozinho. 


No dia seguinte, usando meus poderes mágicos, entrei na página do evento no Facebook e sai procurando a garota pelo nome. Como era um nome incomum foi fácil de achar.
Porém me enganei. Não era uma das meninas. Era apenas uma pessoa com o mesmo nome que também tinha ido assistir a peça. Expliquei a história e a adicionei para ver no que dava. Havia achado ela interessante: bonita, vocalista numa banda de rock, mora na mesma cidade que eu, simpática (até o momento). Porque não tentar conhecê-la melhor?
Vou logo apertar o botão avançar para chegarmos na parte em que a convidei para sair. Evito fazer isso com estranhas, mas como tinhamos gostos semelhantes, musicais, culturais, e tais, me senti tentado a iniciar, no mínimo, uma amizade com ela. Só que ela disse que não poderia sair comigo. Para variar (como acontece com todas que convido para sair) ela tinha namorado, e ele supostamente não iria gostar nada disso. Portanto, nada feito.
Por mim tudo bem sair com a mulher dos outros. Estava mais interessado na companhia dela do que em um relacionamento. Não sou talarico. A menos que a fulana se jogue em cima de mim. Algo que nunca (infelizmente) aconteceu comigo. Mas entendo o lado de uma garota que diz não.
Fora isso, ela disse que nao era uma boa ideia, pois ela era "louca" e tinha muitos problemas. Segundo a própria, eu iria me assustar se saisse com ela. Resolvi plagiar o filme "Alice no País das Maravilhas" do Tim Burton dizendo que "as pessoas loucas são as melhores" mas não funcionou. Em seguida, para minha surpresa, ela disse que a loucura que ela curtia era cheirar pó.

 
Tenso.
O que dizer em uma situação dessas? Eu tinha três alternativas: mudar de assunto, concordar ou criticar. Não tinha como mudar de assunto nesse caso devido a delicadeza do tema. Também nao iria concordar com ela dizendo que achava isso o máximo. Embora eu curta rock'n'roll e saiba que alguns dos meus artistas favoritos se amarram em pó, eu não gosto dessas coisas. Só curto a música mesmo. Restou-me dizer o que pensava, logo, critiquei.
Ela me disse que as pessoas costumam ter preconceito em relação a isso. Questão delicada. Já pressenti que ia dar problema. Como ando em uma fase tal qual a do "Lulinha paz e amor", deixei as tretas de lado e tentei resolver as coisas de um jeito conciliador boa praça. Acabei sendo político. Disse que desaprovava seu hábito, mas que a vida era dela e ela devia fazer o que bem entendesse. E ainda disse que continuava disposto a sair com ela.
 

Gostou da minha atitude? Ela não. Me xingou, me chamou de preconceituoso, moralista e tudo mais. Por fim, me excluiu. Fim da história.
Ser contra é ser preconceituoso? Acho que não. Penso que ela foi intolerante, eu não. Devia ocorrer o contrário.
Contei a história a alguns conhecidos e ouvi opiniões diversas. Uns dizem que fiz a coisa certa, outros, mais brincalhões disseram que eu dei mole e que devia ter saído com ela, louca de pó, e me aproveitado. Tentador. Não dá ideia moçada. Brincadeira...
Essa história me lembrou uma entrevista do Julian Casablancas em que ele disse que os vocalistas de banda de rock geralmente são loucos. Não são pessoas normais. Acho que ele estava certo.
Posso estar dando uma de superior com isso tudo, mas acho que mesmo com todos meus problemas ela é mais miserável do que eu. Afinal é mais fácil curar-se da solidão do que de um vício.

PS: Achei a interpretação do ator da peça melhor do que a do Russell Crowe no filme de 2012. A mesma cara o filme todo. Fala sério Russel! Mesmo assim, tinha mais expressões que a Kirsten Stewart.

 

sábado, 20 de abril de 2013

Joey Ramone

Comecei a ouvir Ramones em 2010. No começo, além da voz rouca e esquisita do vocalista, estranhei a sonoridade veloz e agressiva da banda. Porém, com o tempo, fui gostando cada vez mais. Procurei as traduções de algumas músicas, pesquisei a história dos membros e acabei virando fã. Sério. Sei que é moda dizer ser fã dos Ramones hoje em dia (quase todo mundo tem uma camiseta deles), mas me considero um de verdade. Me identifiquei com os caras, principalmente com o vocalista Joey Ramone. Tanto é que hoje resolvi fazer uma singela homenagem ao mesmo.
No dia 15 de abril de 2001, falecia em decorrência de um linfoma Joey Ramone, vocalista dos Ramones e considerado o pai do punk rock. Muitos lembram de Joey somente pela música. Eu curto as músicas, mas também o tenho como exemplo de vida.


Há uns tempos atrás, assisti ao documentário End of The Century – A História dos Ramones e conheci a história de Joey Ramone. Jefrrey Hyman era um garoto alto, magrelo e desengonçado do bairro do Queens, Nova York. Isolado, quieto, introvertido, tinha problemas de socialização e sofria de TOC (Transtorno Obssessivo Compulsivo). Por conta da doença, inclusive lhe foi dito que seria incapaz de exercer qualquer atividade na sociedade.
Então esse mesmo garoto encontra uma fuga na música. Jeffrey entra em uma banda como vocalista. No documentário, o irmão de Joey, Mickey Leigh, comenta o quão foi surpreendente ver seu tímido irmão em cima de um palco urrando, agitando a plateia. Um tipo de transformação que só se vê em filmes. Infelizmente, pouco tempo depois ele foi chutado dessa banda. A justificativa: Jeffrey era feio demais para ser vocalista. Mundo babaca.


Posteriormente, ele entra nos Ramones, adota o nome Joey Ramone, vira rockstar, mas a vida de novo resolve lhe pregar uma peça. Sua namorada o larga para ficar com o guitarrista da sua própria banda, Johnny Ramone, que se tornou um dos talaricos mais famosos do mundo do rock. 
Reza a lenda que a canção The KKK Took My Baby Away, é sobre o caso. Além disso, vale a pena dizer, que tanto Johnny quanto sua ex sequer se deram ao trabalho de lhe dar alguma satisfação. Algo que o magoou mais do que a traição. Parece que Joey estava destinado a usar a música para lidar com suas frustrações.
Dee Dee Ramone, o baixista da banda, era quem compunha a maior parte das músicas, mas Joey era o cara romântico. Logo, compunha a maioria das love songs dos Ramones. Típico de uma pessoa feia: idealizar o amor. Sei bem como é isso.


O que me impressiona é que mesmo após o incidente, Joey continuou na banda. Se fosse eu, a brincadeira tinha acabado ali mesmo. Sem contar que os dois tinham visões políticas completamente diferentes. Johnny era o típico norte-americano, conservador, de direita e Joey era um judeu nova-iorquino, engajado, de esquerda. Pouco se falavam nos bastidores, mas no palco resolviam suas diferenças. Mesmo no final da banda, doente e cansado das intermináveis turnês, ele continuou bradando "Hey ho, let's go!" pelo mundo afora sem reclamar. 


Os Ramones eram como um vício para Joey. Um vicio que lhe dava reconhecimento, atenção, aceitação, visibilidade. Ele estava mais interessado nisso do que no dinheiro. Por isso continuou na banda por tanto tempo.
Não curto esse lance de fama. Acho que se trata de uma grande ilusão. Outro dia mesmo, eu estava olhando uma fanpage dos Ramones no Facebook e reparei que uma garota lindíssima fez o seguinte comentário em uma foto do Joey: "Lindo!". Lindo? Fala sério. Vamos parar com a hipocrisia. O cara era talentoso, carismático, icônico, mas lindo já é demais. Joey era feio e esquisito. Um completo outsider. Fato. Queria ver se ele vendesse pipoca na porta do colégio particular dessa mesma senhorita. Duvido que ela iria chamá-lo de lindo. Pelo menos a garota tem bom gosto musical. Se bem que ela pode ser uma poser. Muitos posers dizem ser fãs dos Ramones. Compram uma camiseta e dizem que sua música favorita é Hey ho, let's go, sendo que a música se chama Blitzkrieg Bop.


Chega de zoar os posers por hoje. Voltemos ao homenageado. Sou fã do Joey Ramone por conta de todos esses motivos que citei. Me identifico com ele porque também sou alto, esquisito, recluso e um cara de direita já ficou com a garota que amo. Ou dois. Ao menos, eu não fui traído. Enfim... Joey Ramone é ídolo. Da contra cultura, dos rejeitados, do punk rock. E viverá eternamente em nossos corações. Gabba gabba, we accept you, we accept you, one of us.

domingo, 14 de abril de 2013

O Retorno Do Anti-Herói Do Povo

Olá pessoas que supostamente leem meu blog. Como vão vocês? Tudo bem? Sentiram a minha falta? Parem com o choro, sequem suas lágrimas. Sei que não. Mas estou de volta.
Continuo bem, obrigado por perguntar. Bom, acho que é necessário dar as devidas justificativas da minha ausência prolongada (embora durante todo esse tempo ninguém tenha me perguntado porque parei de escrever). A resposta é simples: cansaço. A vida dupla de estagiário e universitário foi demais cansativa para o corpo hospedeiro do Pharaoh. Sem contar a vida pessoal... Mas isso eu conto melhor em outras ocasiões.
Além disso, devo confessar que nos últimos posts eu estava escrevendo sem prazer. Detesto fazer coisas sem prazer, como um hábito. Logo, também por este motivo, tirei férias do Deserto das Areias Azuis. Só agora me dei conta de esse recesso durou exatamente um ano.
Vocês devem estar se perguntando o que me motivou a escrever de novo. De fato aconteceu algo. Não quero parecer presunçoso, mas foi algo desencadeado por mim. Ou por uma ligeira mudança de postura na minha relação com o mundo.
Acredite se quiser mas fiz coisas boas para outras pessoas. Até com certa regularidade. Pelo que me vem a cabeça, só nesse ano: ajudei duas crianças a atravessar a rua; acompanhei uma moça em um corredor, como um guarda-costas, uma ideia que me abomina, porque ela não queria ir sozinha por causa de um stalker sem noção que a ficava amolando; fiz um desconhecido sorrir; banquei o guia turístico para inúmeros perdidos na cidade dando a informação certa ao invés de dizer "não sei"; bati papo com gente mais esquisita e solitária do que eu (isso não foi legal de dizer, mas eu disse, me processem); fui solidário, dando palavras de apoio a alguém que passou por um fracasso.
Todos essas pequenas ações podem parecer insignificantes para os escoteiros e bons samaritanos por aí que fazem isso todo dia. Só que para mim significa muito, pois embora pareça, não sou de todo bonzinho. Reside em mim um individualismo imbecil no qual o que impera é a lógica de cada um por si. "Cada um com seus problemas." Ignorei meus instintos egoístas e dei suporte a essas pessoas, mas só porque elas me pediram ajuda. Exceto no último exemplo no qual eu tomei a iniciativa, admito, com segundas intenções. Depois acabei rejeitado pela garota, mas mesmo assim valeu a pena ter dado uma força. Não me arrependo.
Porém no fundo eu sabia, ou melhor, sentia que não era por altruísmo. Logo não era heroísmo, era algo diferente.
Um herói geralmente escolhe ajudar. Eu era apenas uma pessoa presente no momento. Não me voluntariei; vi uma necessidade, me pediram para colaborar. Colaborei.
Mas como um anti-herói. Vocês sabem o que é um anti-herói, certo? Um sujeito todo errado, cheio de defeitos, mas que na hora H, por seus motivos, faz o que deve fazer: a coisa certa.
O que tudo isso tem a ver com voltar a escrever? Pouco na verdade. Simplesmente percebi que compartilhar minhas desventuras aleatórias pode servir de consolo ou estímulo para outros jovens anti-heroicos por aí. O mundo esta cheio de gente disposta a se vangloriar e narrar seus sucessos. Faltam pessoas dispostas a falar de coisas que não costumam ser faladas. Eu nao diria necessariamente que deviam falar mais de seus fracassos, mas sim  com mais franqueza. Sem essa necessidade idiota de se autopromover o tempo inteiro.
Faltam anti-heróis. Acho que sou um e decidi voltar. Não espero ganhar nada em troca com isso. Quem sabe um agradecimento como "Você é meu anti-herói favorito", seguido de um tapinha nas costas. Se isso acontecesse, este grosseirão daria em troca seu melhor sorriso.

PS: Em relação ao titulo eu só coloquei o "Do Povo" no final para ficar mais sonoro. Espero que tenha funcionado. De qualquer jeito não está errado: sou do povo mesmo. Todos são. Só que nem todos se orgulham.
PS 2: Olha o broche do Travis Bickle. "We Are The People". Tudo a ver. Aliás, assistam Taxi Driver se puderem.