sábado, 31 de março de 2012

Delocco Por Toda A Vida

Não sou tão pretensioso a ponto de escrever um ode a mim mesmo aqui hoje, como o título pode sugerir. Isso seria prepotência demais, até para um egocêntrico cara-de-pau como eu. Só achei que estava na hora de compartilhar com o mundo um pensamento que tenho desde os 17 anos. Nada extraordinário, somente particular. Tudo começou com uma frase solta: “Delocco por toda a vida.”
Na época nem mesmo eu sabia o que estava querendo dizer com isso. Eu era apenas um jovem adolescente perdido, cheio de medo e indefinições, buscando se definir. Estava em busca de pensamentos, ideologias e códigos de conduta para me auto-afirmar. Talvez, naquela época, eu não tenha feito as melhores escolhas possíveis para o meu futuro. Isso se reflete hoje no meu comportamento e certamente terei mais dificuldades adiante pela vida, mas enfim... Não me envergonho das minhas escolhas.
As circunstâncias para o surgimento da frase na minha cabeça foram parecidas com as que deram inspiração a Manuel Bandeira escrever o seu famoso poema “Vou-me embora pra Pasárgada”. Como conta o poeta, “num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: Vou-me embora pra Pasárgada!”. A diferença é que ao invés de me inspirar para escrever uns versos como ele, tive uma epifania na qual tornei oficial meu estilo de vida esdrúxulo. Uma simples frase sem nexo, avulsa e aleatória serviu para inaugurar um pensamento, uma maneira de viver. Quem diria... Parece até coisa de dadaísta.


Ainda não fui muito objetivo na minha explanação. Deixe-me contextualizar as coisas. Primeiramente o nome. Delocco? Sequer é meu sobrenome de verdade. É um nome inventado. Pelo que me lembro, a única menção anterior que tenho desse nome vem de um personagem (De Loco) do jogo Skies of Arcadia, numa matéria que li numa revista de videogames. Meu subconsciente deve ter gravado o nome por tê-lo achado interessante. Além de possuir uma latinidade, o nome tem toda uma atmosfera insana por trás dele, que convenhamos, acho que combina muito comigo.


Delocco lembra loucura. E quem são os loucos? São aqueles que contradizem a razão. Pessoas sonhadoras, marginalizadas pela sociedade. Admito: estou sendo romântico demais, definindo os loucos desta maneira. De fato, existem pessoas loucas de verdade nesse mundo. Os manicômios não me deixam mentir. Mas há aqueles loucos que não verdade não são “loucos”: são apenas injustiçados. Incompreendidos por pensarem de forma diferente da hegemonia e por quererem romper com a rotina e com tudo aquilo que está pré-estabelecido.


Pode até não parecer, por causa da minha visível timidez, mas eu tento fazer isso sempre que posso. Refiro-me a agir diferente. Penso que o mundo, mais do que nunca, precisa de gente diferente. Não só de aparência como de pensamento. Tudo está certinho demais, padronizado demais e isso me irrita muito. Cada um devia agir de uma maneira diferente, ter sua própria personalidade e não simplesmente repetir ações e tendências que, digamos de passagem, sequer compreende. É o chamado modismo.


É aí que me coloco de “mártir” agindo de forma bisonha no meu simplório cotidiano. Meio que tento ser um símbolo para inspirar outras pessoas. Não a agirem como eu, mas a agirem como elas mesmas.
Novamente estou sendo muito romântico. Perdão. Não me esqueci da realidade. Vamos  à aplicação do “Delocco por toda a vida” no mundo real. Sei que a minha vida seria bem mais fácil se eu me rendesse e agisse como todo mundo que me cerca. Certamente, se fizesse isso, eu teria mais amigos, acompanhantes nos fins de semana e conseguiria empregos com mais facilidade. Se eu gostaria de ter tudo isso? Sim. Mas acho que é um preço a se pagar. Abro mão de certas coisas em nome de uma ideologia que ninguém me obriga a obedecer. Nem sei bem porque faço isso. Apenas sinto que alguém tem que fazê-lo.
Mas afinal o que define um Delocco?
Na verdade várias coisas. Impossível por tudo em um texto, mas valendo-me de algumas frase soltas, tentarei fazê-los captar ao menos a essência, o espírito da coisa.
Ter um comportamento misantropo na maior parte do tempo (e não antissocial como alguns insistem em dizer). Ter a postura do faça-você-mesmo. Ser você mesmo. Lutar por aquilo que acredita, mesmo estando completamente sozinho. Simplicidade. Sinceridade (muitas vezes, beirando ao cinismo). Rir das próprias piadas. Rir da própria desgraça. Jamais fingir ser o que não é. Desvalorizar o alpinismo social, mesmo nascido pobre. Não se deixar intimidar por posses culturais e materiais dos outros. Não mudar a própria maneira de ser, independente do lugar que frequenta e das pessoas que o cercam. Viver sentindo uma liberdade anárquica no seu coração que na verdade só lhe aprisiona.
Isso é ser Delocco.
Não me orgulho nem me envergonho da escolha que fiz. Admito que é difícil, mas ao menos me divirto. Se me chamam de gordo e me mandam ir para uma academia, por exemplo, eu levanto a camisa e sacudo a minha pança, provocando algumas risadas.
Não sei o que vai me acontecer daqui para frente. Afinal eu não prevejo o futuro. Só quis deixar um registro para o que acontecer de agora em diante. Seja lá o que for. Não sou imutável e eterno perante o tempo. Porém minha essência continuará a mesma. Assim espero. Esse é meu lema. Delocco por toda a vida. Doa a quem doer. Nem que seja eu mesmo.

PS: Escrevi esse texto para aqueles que me vêem atualmente e que possam pensar que estou mudado. Na verdade, até aceito isso. Só não me acusem de ser vendido. É apenas aparência. Eu preferia andar nu a usar trajes sociais nesse calorão do Rio. Pensando bem, eu preferia andar nu de qualquer jeito...