segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Não Há Lugar Melhor Que O Nosso Lar

“Não há lugar melhor que o nosso lar” é uma conhecida frase dita pela Dorothy no filme “O Mágico de Oz” de 1939. Faz tempo que vi esse filme, mas pelo o que me lembro ela diz isso quando finalmente regressa a sua casa após as suas peripécias em um mundo de fantasia. A conclusão é clara: o conforto de nossa casa é inigualável.


Todo mundo sente isso. Pessoas que permanecem muito tempo em um mesmo local, criam um elo com ele e sentem que o tal lugar faz parte delas. Sem o seu cantinho especial se sentem incompletas e esse laço dificilmente é rompido.
Na série de mangá e anime Naruto esse elo é muito bem explorado. Ocasionalmente, algum personagem ressalta a importância de defender a Aldeia da Folha, onde residem as pessoas que eles tanto amam. A devoção é tanta que os ninjas se sacrificam para proteger aquela terra. O valor que dão ao seu lar é manifestado pela força bruta, mas nem por isso é menos significativo.


Obviamente eu não sou um ninja, nem mesmo um desenho animado. Não chegaria a tais sacrifícios. Mas de uns tempos para cá percebi algo. Morei toda a minha vida em São Cristóvão. Melhor dizendo: vivi toda a minha vida em São Cristóvão. Lógico que eu já fui a outros bairros, mas eram ocasiões especiais. Não faço idéia de como é morar em outro lugar. Estudei a vida toda aqui, do C.A. ao último ano de ensino médio, sempre fui nos hospitais daqui, etc.
E o que dizer das pessoas? Tem gente que nem conheço pessoalmente, mas que reconheço de vista e vi crescer. Provavelmente alguns me reconhecem também, só de vista. Pra quem não sabe, meu bairro fica na zona norte, próximo ao Centro e o Maracanã. Como bairro da zona norte dá pra imaginar os tipos físicos da maioria das pessoas que aqui habitam: gente feia, descabelada, sem maquiagem, sem roupa de grife, de espinha no rosto e por aí vai. Não que pessoas de perfil semelhante sejam exclusivas dos subúrbios. Só que, e acredito que você vai concordar comigo, na zona sul os habitantes têm uma aparência melhor. Aquelas pessoas que são sempre representadas nas novelas: gente bonita, sarada, bem vestida. Entenda-me que não guardo nenhum tipo de rancor com um grupo de pessoas específico sem conhecê-las antes. Em outra palavras procuro dar uma merecida chance ao ser humano. Não sou um maldito segregador. Afinal no fundo somos todos humanos apesar das inevitáveis diferenças. Mas que há uma certa divisão do rio entre elite e povão isso há e negar isso seria tolice.
Quando saio da faculdade, que fica na zona sul e entro no ônibus 472 (que nunca para no ponto...) meio que já me sinto em casa. As pessoas da zona norte são mais feinhas mais são mais calorosas, simpáticas, engraçadas e carismáticas. Sem preconceitos quanto aos “sulistas” mas é o que eu penso, na minha simples e modesta opinião que não tem citação de nenhum filósofo francês.
Às vezes eu penso no meu futuro. Amo minha cidade, meu bairro, minha rua (bom, a rua nem tanto assim... Vizinhos desgraçados!) só que acho que se pudesse optar, não construiria uma família aqui no Rio. Do jeito que estão as coisas fica difícil se sentir seguro. Os problemas vocês sabem quais são: as drogas, a violência urbana, o congestionamento no trânsito e outros transtornos cotidianos na capital fluminense. Por causa de tais motivos, ambiciono há tempos uma vida pacata interiorana no futuro. Até contasto isso pelo MSN quando teclo com algumas garotas do interior. Elas por alguma razão sobrenatural são gatíssimas e me entendem. Mundo injusto...
O interior combina mais com a minha personalidade. Sempre me senti um peixe fora d’água por essas terras cariocas. Lugar de samba, funk, gente descontraída e praieira, características que não fazem parte do meu ser. Sinto-me a antítese de um carioca genuíno, um eterno desajustado. Não que as pessoas me tratem mal e que eu as considere como inimigas, mas me aparentam ser tão diferentes de mim que fico me sentindo mal com o mundo que me rodeia.. Parece até algum tipo de maldição que todo escritor tem, ser introvertido e desajustado. Vá entender o porquê. O lado ruim é que eu não ainda não tenho sucesso. E duvido que irei ter algum dia...
Deu pra entender que meu problema é mais com as pessoas do que com o lugar. Não significa dizer que odeio todo mundo e que desejaria esquecer a vida que aqui tive. Verdade seja dita: eu não seria o mesmo cara que sou se não tivesse morado a vida toda em São Cristovão. As experiências foram únicas, guardo com carinho até as piores delas e esse tipo de memória se incorpora na gente. Como disse antes, minha vida toda girou por essas bandas. Fui assaltado na rua General Argolo e atropelado por uma bicicleta na Quinta da Boa Vista, por exemplo. Todas as minhas aventuras por mais patéticas, desastrosas e até raramente felizes que tive, se encerravam por aqui no caminho de volta para casa. Esse ano, quando olhei a capa do CD Recovery, novo disco do rapper Eminem, na qual aparece ele caminhando solitariamente em uma estrada, fiz logo a associação, me imaginando andando pela rua São Januário após um longo dia cansativo. A caminhada por uma lonely road é um símbolo clássico do retorno ao lar ao qual pertencemos.


Meu bairro esteve comigo em todos os meus momentos. Aconteça o que acontecer no futuro, estará para sempre guardado em meu coração. Por isso digo; te amo, imundo bairro da zona norte com nome de santo. Para onde quer que a vida me leve eternamente serás meu porto seguro.

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